domingo, 29 de novembro de 2015

Dedicatória

Abriu o livro nas primeiras páginas. Passou pelo prefácio e ali (na página seguinte) descobriu uma folha em branco. Começou a grafar em letra trêmula, de forma, iniciava o texto que desejou ter lido aos 16 anos e que ofertava aos 63.

Outro dia, há alguns anos na verdade, me falaram que cada indivíduo é um universo. Constatação que moveu pensamentos dentro de mim. Eu não buscava nenhuma filosofia, mas achei que esse era o caminho para apaziguar tantas dúvidas que me sensibilizavam.

Foram os anos, partes do sábio tempo que me trouxeram olhos mais tranquilos sobre mim e sobre os outros. Somos múltiplos, cheios de marcas que talvez a psicologia não consiga explicar por completo. Porque o mesmo caminho pode levar pessoas a diferentes lugares?

Cada qual, se prestar atenção em si mesmo, verá o quanto somos repletos de lacunas, vazios e incompreensões. É bem possível que a descoberta seja o melhor da vida. Desvendar ao longo do tempo o que há em nós e o que existe nos outros, talvez seja essa a razão de viver.

Ainda jovem, me percebi diferente. Não fisicamente, muito menos nas capacidades. Mas algo era diferente dentro de mim, algo que eu não encontrava em mais ninguém. É comum, em algum momento da vida ao menos, nos sentirmos deslocados. Afinal, não somos feitos em série. No entanto, existem algumas diferenças que podem nos trazer mais sofrimento dependendo de qual momento da história nós estamos. Veja bem, algumas décadas atrás, em nosso país, alguém que desejava ser artista (atriz, cantora, dançarina...) era visto com maus olhos pela sociedade, porém hoje essas profissões são muito bem quistas. A história tem sido assim e não apenas com profissões. 

Durante séculos excluímos, marginalizamos e até exterminamos quem fugiu da regra do “normal”. Ainda hoje, mesmo com a sociedade politizada como nós acreditamos ser, continuamos a marcha contra o que foge da nossa compreensão. O ponto principal de qualquer análise que podemos iniciar é a compreensão de que quem faz a diferença são os “diferentes” e não aqueles que os apontam. Porque os marginalizados que conseguirem se autocompreender em meio a confusão e viverem sua vida além de seu tempo, esses sim, merecem qualquer mérito, mesmo que não sejam mencionados nos anais da humanidade.  

Ass. O autor.

O garoto ficou surpreso com o tamanho do texto que o autor lhe dedicou e ficou mais curioso com ele do que com o livro em si. As pessoas que estavam na fila, e aguardavam para receber a dedicatória, ficaram impacientes e mais curiosas do que o garotinho. 

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