sábado, 3 de outubro de 2015

Eu não quero dormir

Recusou alguns convites, disse que precisava estudar, mas já havia estudado inúmeras vezes o conteúdo da prova da semana seguinte. Ele queria que insistissem. Sentou no chão da sala com o celular nas mãos, olhou toda e qualquer possível notificação. – Eu odeio redes sociais, ele pensou a cada vez que encerrava os aplicativos. Puxou uma almofada do sofá, abraçou como quem abraça alguém e fechou os olhos.

Sábado, quando a semana suspira seu fim e sepulta dias que nunca mais voltarão. Muitos colocam seus sapatos, trancam suas portas e encontram os amigos nas esquinas da cidade - Dizia alguém que ele ouvia, mas a face não reconhecia. Sábado chama a embriaguez de qualquer coisa: gente, álcool, letras ou música. Saturday night. I do not wanna sleep. Isso deve ter em alguma canção!

Fico só, cercado pela duvidosa Primavera, continuou a voz – intenso frio ao amanhecer, enorme lua ao meio-dia e uma xícara de chocolate de noite – entorno um grande copo do avesso do ópio e dou de ombros ao divertimento de Gato ou Boa-Vida. O vento tira a areia do cinza de minhas emoções, aqui ninguém é Capitão. Eu descubro a covardia das lágrimas, eu as rejeito! Confio na loucura do encontro e da feitura que me permitiu ser. Sorrio misturas, respiro e beijo o céu... Braços abertos, feito doido, feito deus. O instante me escapando pelos dedos, tudo vai acabar!

Voz de mulher sussurra “Sou como a haste fina, que qualquer brisa verga, mas nenhuma espada corta”, ela me escreve Cartas de Amor. Continuo a rodar de braços abertos. Tropeço e caio ainda sorrindo e agora é homem que diz: “Podem até maltratar meu coração, que meu espírito, ninguém vai conseguir quebrar”, esse sim, Um dia Perfeito.

Devaneio! Porque a lucidez tornou-se loucura e basta pensar para ver. Normal é quem rejeita divagar, quem tem corpo e nada mais. Natural é fincar-se na Terra e ter tudo o que ela pode dar, sem questionar, sem admirar, ver e não olhar... Falsas lágrimas, porque a música parou e o teatro não segue sem trilha, disse a voz que se afastava sem qualquer feição.

Sentiu o gosto amargo na garganta que lhe chamou a vida. Percebeu que havia dormido por horas, o telefone não quer tocar, pensou ele cansado. Os Braços fechados e o frio do chão que não aquecia. Levantou e seguiu porta a fora. 


IMAGEM: https://apenassentimentos3.files.wordpress.com/2009/08/sentada_chao.jpg

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